Estamos vivendo um momento único na história recente do planeta e esta pandemia gerada pela COVID-19 tem trazido grandes desafios a toda a humanidade. Num cenário como o atual, a retomada da economia é fator essencial para que os mercados possam voltar a gerar empregos e frear essa crise que nos assolou. A chegada das vacinas para combater o vírus é um alento. Mas ainda estão longe do fim as dificuldades econômicas e sociais que foram desencadeadas ao longo dos meses. Neste sentido, o fator crédito tem sido um dos mais discutidos e esperados pelos brasileiros, que buscam alternativas para gerar renda e sobreviver.
Enquanto medidas como a manutenção do auxílio emergencial passam por constantes discussões e atualizações, há que se aprofundar na questão e olhar para uma parcela da população que nem mesmo recebeu esta ajuda financeira do governo. Um levantamento inédito feito pelo Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira (FGVcemif) da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EAESP) buscou desenhar o perfil do trabalhador brasileiro que não recebeu o auxílio emergencial e chegou à conclusão de que este grupo, que está fora do escopo de programas de transferência de renda é ainda maior do que os 38 milhões de brasileiros que recebem o auxílio emergencial, mas não constam no Cadastro Único do Governo Federal. Mais de 18 milhões de trabalhadores se somam a eles — são pessoas que não receberam o auxílio emergencial e nem são beneficiários do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada, apesar de terem baixa renda.
Com relação à renda, a maioria (93%) dos informais de renda mensal menor ou igual a um salário mínimo não solicitaram crédito, muito provavelmente porque sabiam que o resultado provável seria negativo, analisaram os pesquisadores.
Isso significa que uma grande parcela da população ainda é invisível ao mercado financeiro, sem conta em banco ou qualquer outra forma de acesso ao crédito. É um potencial de negócios inexplorado pelo mercado desde que os produtos adequados sejam ofertados. E mais que isto, uma oportunidade de diminuir o imenso gap de renda e de condição de vida na população brasileira. Cada um de nós e nossas empresas podemos ser vetores da transformação e inclusão destas pessoas no mercado. É preciso começar hoje para deixar nosso legado para o país.
A mudança para os serviços digitais já estava ajudando as sociedades a promoverem a inclusão financeira antes do início da pandemia, beneficiando muitas famílias de baixa renda e pequenas empresas com pouco acesso às instituições tradicionais. Com o distanciamento social, o uso destes serviços foi acelerado.
Durante um webinar de uma série que promovemos no ano passado, chamado “À frente da curva COVID-19: A experiência de Hong Kong em outras pandemias e o legado para a sociedade e a economia no Brasil”, trouxemos o estudo de caso da região asiática que passou por duas pandemias, sendo a mais antiga a de SARS, em 2003. Na região, os pagamentos digitais e o comércio eletrônico tomaram grande impulso desde então.
Quando se fala em inclusão e democratização do crédito, uma maior alfabetização financeira e digital e boas regulamentações são indispensáveis para viabilizá-los. E a fim de aproveitar o alto potencial dos serviços digitais na era pós-COVID e trabalhar de maneira que as parcelas ainda invisíveis ou excluídas do sistema financeiro passem a serem incluídas, vejo que três fatores são essenciais:
A crise originada pela COVID-19 acelerou o processo de digitalização do Brasil e o consumidor começa a realizar atividades online que até então não imaginava possíveis. Com isso, todas as empresas e bancos tiveram que se adaptar rapidamente a esse novo paradigma. Quando uma nova tecnologia é adotada pelas pessoas, elas mudam de comportamento. E compreender essa mudança é vital para desenvolver estratégias de negócios.
Em crise e pós-crise econômica, é comum subir as barreiras de crédito e as instituições ficarem mais restritivas. E a minha proposta é, respeitando este histórico e os “manuais de gestão de crédito”, buscar novos produtos que permitam incluir novos clientes, mesmo neste período de incertezas.
Dessa forma, um dos caminhos que mais indico aos nossos clientes é ampliar a sua visão do mercado. Pois, se da população adulta no Brasil, com 150 milhões de pessoas, 56 milhões são economicamente invisíveis, a reinvenção do seu negócio pode estar exatamente nessa parcela que nem busca por crédito, por já imaginar a resposta, como vimos no estudo da FGV.
Por fim, mas não menos importante, é necessário falar da tríade composta por inovações regulatórias patrocinadas pelo Banco Central: cadastro positivo, PIX (Pagamentos Instantâneos) e Open Banking. Estas são medidas e plataformas que ajudam no processo de inclusão, justamente por seu alto nível de digitalização. Os benefícios que elas trazem são inúmeros, tais como melhora da avaliação de risco, permissão de menores taxas de juros, expansão de crédito, redução de fraudes, informação ainda mais detalhada e rica e maior concorrência e transparência, bem como a criação de novos modelos de negócios.
Ao longo de toda a minha carreira, posso afirmar que não vi tanta incerteza quanto à duração e à profundidade de uma crise econômica. Isto nos impulsiona a buscar alternativas igualmente poderosas e confiáveis. E para nós, na TransUnion, promover a confiança entre empresas e seus clientes são fatores essenciais e poderosos. Por trás de cada dado, encontramos histórias únicas, tendências e ideias exclusivas. Há caminhos viáveis para viabilizar o acesso a bens e serviços, por meio de soluções para a tomada de decisão no relacionamento das organizações com seus clientes e parceiros. Eles trazem desafios, claro, mas são possíveis. Então, vamos juntos.
Claudio Pasqualin, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da TransUnion
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